Bela
Acordei com o canto dos pássaros e um raio de luz entrando pela fresta da janela de madeira. Pisquei devagar, com os olhos ainda pesados de sono, até que percebi: não estava no meu quarto. O teto rústico, o cheiro de madeira úmida e o silêncio diferente denunciavam que eu estava em outro lugar. E então, antes mesmo de abrir os olhos completamente, senti.
Um corpo quente, grande, colado ao meu. Uma mão calejada — resultado de anos de trabalho no campo — repousava com firmeza na minha b***a nua. Arregalei os olhos e corei na mesma hora. Senti a respiração dele no meu pescoço, me causando arrepios.
Meus músculos estavam doloridos, meu corpo exausto. Ao tentar me mexer, a dor entre as pernas me fez franzir a testa. Ainda havia sangue seco ali. As lembranças da noite anterior voltaram em ondas quentes: o toque dele, o beijo, os gemidos, a entrega... Henrique.
A noite passada foi intensa, selvagem, insana. Mas agora, com a luz do dia, eu não sabia onde enfiar a cara. Me rastejei devagar para fora da cama, torcendo para ele não acordar. Eu precisava sair dali antes que ele dissesse qualquer coisa. Antes que eu dissesse.
Henrique continuava dormindo, deitado de lado, com o rosto parcialmente coberto por alguns fios molhados de cabelo. Mesmo dormindo, era bonito de um jeito quase cinematográfico. E, pra minha surpresa, seu p*u ainda estava duro. Aquilo me fez engolir seco. Lembrei do que ele fez comigo... e o calor subiu pelas minhas bochechas novamente.
Me vesti o mais rápido possível — minhas roupas ainda estavam úmidas, mas era melhor do que ficar ali. Calcei os tênis molhados, peguei minha mochila e saí da cabana antes que meu coração me traísse.
A trilha que levava até a estrada era úmida e escorregadia por causa da chuva da noite anterior. Cada passo era uma tortura. Minhas pernas doíam, minha v****a ardia. Aquilo tudo tinha sido loucura. Eu me entreguei a um desconhecido, só porque estava magoada e ele parecia saído de um filme de faroeste erótico. Eu não era assim. Ou achava que não era.
Segui o caminho tentando ignorar as dores e os pensamentos arrependidos, até que ouvi o barulho de uma carroça se aproximando. Por um segundo, meu coração parou — será que era ele vindo atrás de mim? Mas não. Era um rapaz jovem, de chapéu de palha, puxando uma carroça cheia de feno.
— Bom dia, moça! Tá perdida por essas bandas? — ele disse com um sorriso simpático.
Todo mundo aqui sorria demais, como se a vida fosse fácil.
— Estou indo pra casa da Cidinha. Meu carro ficou atolado pra trás — falei cansada, tentando parecer menos acabada do que realmente estava.
— Sobe aqui, eu te levo. Ainda tem chão pela frente — ele disse, estendendo a mão.
— Pensei que fosse mais perto... — murmurei, subindo.
— Nada! Você ainda tá bem longe. Essa fazenda é grande demais — respondeu, puxando as rédeas do cavalo.
Ele era falante, me perguntou de onde eu era, o que vim fazer na fazenda. Quando falei que era sobrinha da Cidinha, ele ficou ainda mais respeitoso. Disse que se chamava Pedro, que seus pais trabalhavam ali desde que ele nascera e que ele também queria seguir o mesmo caminho. Só faltava achar uma mulher pra casar. Sorri sem graça, fingindo interesse na conversa, enquanto minha mente ainda lutava para processar o que tinha vivido algumas horas atrás.
Quando começamos a ver as casas, ele apontou para uma enorme construção de dois andares, com varanda em toda a volta, igual àquelas novelas antigas que minha avó assistia.
— Aquele casarão ali é do patrão. Ninguém chega perto sem permissão. O senhor Alencar é muito rígido... qualquer deslize, ele expulsa da fazenda.
Meu estômago virou. Claro. Senhor Alencar. O patrão... Henrique.
Tentei disfarçar o nervosismo. Fingi que era só uma informação qualquer e olhei para o lado oposto. A cabana, o sexo, o nome... tudo se encaixava agora.
Minutos depois, vi uma casa menor, mas cheia de flores, rodeada por árvores e com roupas coloridas secando no varal. Era acolhedora, viva. Minha prima Elisa apareceu correndo atrás de uma galinha no quintal.
— Elisa! — gritei, acenando.
Ela olhou, me reconheceu e correu ao meu encontro. Desci da carroça e nos abraçamos forte.
— Que bom que você chegou! — disse ela, sorrindo.
— Tô toda acabada, mas cheguei nesse fim de mundo — falei, soltando um suspiro.
— O que aconteceu? — perguntou, preocupada.
— Meu carro atolou ontem à noite. Foi um caos.
— E onde você dormiu?
Pensei por um segundo e menti:
— No carro, né? Onde mais?
Pedro, do outro lado, comentou:
— Depois falo com meu pai pra ir buscar seu carro com o trator.
— Obrigada — falei, estendendo as chaves do Opala para ele. — Cuida bem dele, tá?
Elisa me emprestou roupas. Tínhamos quase o mesmo corpo, então deu certo. Fui direto pro banho. Precisava tirar o cheiro daquele homem do meu corpo, o suor, os vestígios da noite intensa.
Ao tirar a roupa, vi as marcas. Chupões roxos pelo pescoço, peito e barriga. Minha b***a estava vermelha. Entre as pernas, sensível e ainda com leves vestígios de sangue. A lembrança me atingiu em cheio.
Fechei os olhos sob o chuveiro e deixei a água cair por longos minutos. Lavei cada centímetro como se quisesse apagar tudo. Não podia pensar nele. Não podia me apegar. Foi só uma noite. Só isso.
Vesti um vestido leve da minha prima, sequei o cabelo — meus cachos demoravam, mas pelo menos eram bonitos. Quando saí do banheiro, Elisa e Pedro estavam no meu quarto com minhas malas.
O quarto era espaçoso, com uma grande janela de madeira que dava vista para um jardim florido. Tudo ali parecia tão pacífico, tão distante da loucura da noite passada...
— Vai guardar suas coisas? — perguntou Elisa.
— Depois. Agora só quero dormir um pouco — respondi, me jogando na cama.
Elisa deitou ao meu lado, me abraçando de leve. Pedro acenou antes de sair, e eu o agradeci com um sussurro.
— Vou avisar minha mãe que você chegou. Ela tá no trabalho, mas logo volta — disse minha prima, se levantando.
Ela me deixou sozinha para descansar. Fechei os olhos.
Mas Henrique voltou à minha mente como um trovão silencioso. Sua boca, suas mãos, seu corpo sobre o meu. Sua intensidade. Seu cheiro.
Respirei fundo. Foi só sexo, Bela. Só uma noite. Nada mais.
Mesmo assim, meu corpo ainda tremia ao lembrar.
E, com esse pensamento confuso e uma sensação quente no peito, adormeci.