sol:
Chegamos à barreira depois de um Uber e, após ter caminhado duas ruas a pé, mortas de cansadas, chegamos. Olho para a lua de cara fechada, encarando um monte de homens armados. Já eu sorria e acenava, a clara diferença entre as duas.
Um homem vem até nós.
- Lipe: "Estão perdidas?"
Eu olho para ele e falo: "Aqui é caso de família?"
- Lipe: "Tá me tirando, mina?"
- Lua: "Liga não, moço, ela vive brincando, depois morre e não sabe por que ela fala", cruzando os braços.
"Foi m*l aí, amigo, estamos procurando um tal de grego?"
- Lipe: "De parte de quem?"
- "Das filhas!" eu falo sem pensar.
A lua começa a me xingar e eu não vou ficar sem falar. Começamos a bater boca, não sei quanto tempo passou.
- Grego: "QUE c*****o ACONTECEU AQUI?" ele grita.
No automático, o menino que falou comigo me segurou por trás, com os braços para trás, e a lua está igual com um cara bem parecido a este. E vou te falar, se me aperta um pouco mais, eu não respondo. Já estou sabendo por que as Maria fuzil sobem o morro.
Olho put* para a lua e depois para o suposto meu pai.
Grego:
Descia o morro caminhando. Era tarde e eu gostava de andar nos becos, cumprimentar os moradores, saber como estavam, escutar suas preocupações e suas alegrias. Eu era temido lá fora; aqui eu gostava de ser conhecido como Grego, o filho da Vera, o que jogava bola na quadra sem lema.
Olho pra rua de baixo, escuto uns gritos e vejo duas meninas discutindo, e os arrombados dos vapores só de olho, achando graça. Cheguei gritando, já metendo banca.
Posso saber o que está acontecendo aqui?
— Lipe, essa maluca quer que eu chame o pai!
Eu olho sem entender, levanto a sobrancelha e pergunto o óbvio: quem é o pai?
— Lipe: estaria sendo o senhor chefe!
Eu olho pra cara das duas que estão se debatendo pra se soltar e falo curto e grosso pra elas. pra salinha !
Escuto uma das meninas falar:
— Toma no cu com você, Sol! Desde criança, sempre fazendo merda.
— Ah, para! Ele ia ter que saber cedo ou tarde. Foi cedo ele que faça o DNA e pronto.
Eu me viro e encaro as duas em silêncio.
A zalinha fica morro acima, bastante afastado. Eu tive que ir todo o caminho escutando as duas e eu, sinceramente, só queria rir.
_lua: Se a gente morrer, enterrem-nos no pôr do sol. Primeiro ela, que é a mais velha, fala e aponta com o queixo, eu por último.
-sol: De preferência, primeiro me deem comida, porque a viagem foi longa e, pelo menos, tenham humanidade.
-lua: Humanidade, Sol? Tá brincando, né? Eles matam pessoas e tu não entregou de bandeja.
-sol: E tu, como ia falar pra este que é nosso pai? Tinha outra maneira melhor?
-lua: Com classe, talvez seria melhor, não brigando no pé do morro do homem, aff.
-sol: Eu comia tuas carnes do prato quando a mãe conseguia e botava a culpa no gato da Zoe.
-lua: Aah, sua... melhor nem falo, vaca. Tu sabia que eu contava os dias pra comer carne? Isso não se faz!
moço? Ô moço?
- Que foi, maluca?
-lua: Posso eu matar ela? Se vai nos matar, eu vou ter a honra de matar ela, tá?
- Entre as duas, calem a boca agora! Falo já perdendo a paciência.
-
Suspiro para não perder a linha.
Podem falar de uma quem é a sua mãe?
- Luz Silva.
Escutar esse nome me deu uma pontada de algo que nem eu sei o que era. Olhar para as duas meninas, mulheres, ver traços da antiga Luz nelas, porque acredito que ela tenha mudado depois de esse tempo todo.
Mas então a pontada veio com uma história de vida pesada, como uma cruz. As meninas me contavam e, a cada palavra, meu coração se esmagava. Eu não estive para Luz nem para estas meninas que dizem ser minhas filhas. Eu não duvido da Luz, mas para poder ajudá-la, preciso de um exame de DNA. Ela acabou em prisão por um crime que, se eu achar, ele vai pagar isso. Eu juro, não vou deixar a morena apodrecer lá dentro.
- Tá, já escutei vocês. Vou pedir a uma enfermeira que faça a coleta para um exame de DNA, certo?
- Lua: Tá bom, e manda comida. Temos uma broca.
Abusada, falo, mirando ela: vão ficar aqui até o exame sair, falo para ver a razão delas, e ela me olha.
- Sol: Manda água também e um ventilador.
Eu fico em silêncio, olhando elas.
Saio porta afora sem acreditar. Elas parecem seguras de serem minhas filhas. Olho para o lado; o Thaz está negando com a cabeça. Ele escutou tudo, tenho certeza.
- Manda a enfermeira do postinho coletar aqui, falo olhando sério para ele.
- Thaz: Estou indo nessa, vou mandar trazer as exigências das herdeiras, ele fala debochando, e eu n**o com a cabeça.
Vou para minha sala e acendo um preciso alinhar as ideias e entrar em contato com meus aliados de lá para ver como sacar a luz da tranca.
lua:
Um calor do inferno aqui faz uma hora que ninguém bem e a dita cuja enfermeira não apareceu. Estou evitando falar com a Sol, amo ela, mas estou p**a com ela, comia minhas carninhas fritas, aff, enfim. Olho pra porta, se abrindo, passa uma moça de jaleco branco, saca as ferramentas e nos conduz a sentar em uma cadeira que tem aqui. Foi rapidinho, agora tomara que não demore o resultado.
Ela sai meia hora depois, aparece o vapor que me asseguro agora, olhando assim, é um gostosinho, mas né, cara fechada, porque homem não presta. Me entrega um lanche e água, bota uma extensão com um ventilador. Olho pra Sol que tá dormindo, olho pro vapor e falo: "bota virado pra ela". Ela não merece, mas os bichinhos e mosquitos, o ventilador afasta. Falo. Me olha e me dá um sorriso de canto.
-Didi: "A gente pode se matar, mas se ama, né? Eu e minha irmã, é assim." Ele fala e eu sorrio. Sem graça, ela comia minha carne, isso não se faz. Falo e ele n**a com a cabeça. Ah, princesa, meu vulgo é Didi. Tchau.