Grego:
Olho meu celular já são 5:00 da manhã. Não fui pra casa, só mandei um moleque avisar a Bibi que estava com trampo. A maluca nem me ligou e, por um lado, eu até agradeço, não saberia que disse. Passei a noite inteira ligando pros coligados, até pros parças do Paraguai. Eu deixei avisado, o palhaço logo logo estará no meu circo. Também já localizei o presídio, que a luz está foi osso, mas nada que umas boas molhadas de mão não resolvam. Mandei dinheiro pra darem um celular pra ela lá dentro e darem uma prótese. Nunca se sabe, cadeia pode ser teu túmulo. Ainda não sei qual foi a do tal palhaço, se foi só pra se salvar ou o porquê, mas eu vou descobrir. Fui dar uma olhada de madrugada nas meninas, as duas dormem feito bebês, enroscadas uma na outra no chão. Batido, isso me levou a pensar que realmente passaram coisas na vida. Quem vive dormindo em cama confortável não dormiria assim tranquilamente no chão. Bateu um arrependimento, bateu, mas eu sou precavido. Não sei quem sou e, no meu mundo, a facada é de qualquer lado.
Saio dos meus pensamentos com a batida na porta.
- Pasa, falo já sabendo quem é.
- Thaz: Não foi pra casa?
- Não, fiquei aqui ligando pros manos. A história bate, falo olhando ele terminar de comer um x-tudo na minha frente sem me dar um pedaço!
- Thaz: Ai, mano, a enfermeira falou que às 9 já posso ir pegar o resultado, vou colar lá na goma ver meu menor e de lá já pego e trago.
- Valeu aí, mas manda um x-tudo no caminho, deu uma broca só de olhar, falo empurrando ele, que sai rindo.
Me sento aqui fora, não estou nervoso, estou pensando em que, se são minhas meninas, mesmo a Bibi e elas vão se matar, mas eu não vou abandonar elas jamais.
Escuto gritarem meu nome e eu sorrio.
O Pituco olha pra mão dele e vem com uma coca e um xis.
Saco do bolso uma nota de 50 e mando ele ficar com o troco.
O menor é filho da Marinete, a dona da lanchonete 24 horas. Os lanches são da hora, como aqui mesmo o lanche sentado na mureta, maior fome me deu.
Aproveito para dar uma caminhada, cumprimentando os vapores. Vejo se está tudo ok. Didi aparece, ele e Lipe são meus vapores de confiança, fazem minha segurança quando saio.
Porém, estou pensando que, se as meninas são minhas, elas vão fazer a segurança delas. Aqui só temos a Kitty de mulher no movimento, e ela faz a segurança da Bibi por escolha da Bibi, porque, segundo ela, quando ela vai às compras no shopping, ela é parceira e não fica com corpo mole. Eu não digo nada à Bibi, muito me aguenta; não custa nada eu fazer os gostos dela. Sigo meu rumo e vejo os menores irem para a escola em filinha pelos becos. Maior satisfação.
É nessa hora que bate a culpa de não ter isso com as meninas. Caso elas fossem a verdade, e que eu estou torcendo para elas serem mesmo minhas meninas. Eu me fiz a vasectomia há anos na Bolívia, justamente porque eu não queria trazer um filho com alguém que não valia a pena, mas a Luz vale, e como vale! Já a Bibi, bom, ela não era fã de crianças, assim nunca questiono.
Terminei de dar o giro e voltei para a boca. Olho para a câmera que dá para a salinha e as meninas dormem que nem pedras. Já são 8 da manhã.
Me concentro para terminar a contabilidade e algumas mudanças que têm que ser feitas na boca.
Estou passando a limpo para que não haja erro. Olho para a porta e nada de baterem. Suspiro, estou ficando ansioso. Já me levanto e vou para a mureta.
Olho meu relógio e são 9:09. Cadê o arrombado? Suspiro, tentando não transparecer o nervoso.
Entro e me sento na cadeira. Já nem fechei a porta. Dois minutos depois, passa o Thaz com um papel na mão.
Me dá ele sem falar nada e se senta na minha frente.
Abro imediatamente e começo a ler os resultados: o da Sol é positivo, o da Lua é positivo.
Olho para o Thaz, que está sorrindo da minha cara de pai de primeira viagem. Um sentimento louco e um aperto na cabeça do c*****o das minhas princesas passarem por tudo que passaram.
Passo minha mão na cabeça várias vezes, tentando não surtar comigo mesmo, mas tá difícil.
- Thaz: Calma, tu vai ter um infarto! Era óbvio que essas meninas eram tuas, elas têm teu jeito, p***a! Só que uma é bem debochada e a outra é mais marra, só olhar pra elas.
- E esse morro tá ficando pequeno, falo me recompondo.
- Thaz: Mano, na moral, essas meninas passaram muito até aqui. O mínimo que tu tem que fazer é tratar elas bem e dar o lugar delas, tá ligado no que eu tô falando? A Bibi é uma ótima patroa, até não encostar no bolso dela. Tu sabe que ela é de boa, até no quesito dinheiro, e dividir seja botado em jogo.
- Eu sei isso, não sou burro. Por isso falo que o morro vai ficar pequeno, porque ela vai ter que aturar elas e se pá a mãe delas. Falo já me lembrando que vou fazer de tudo pra trazer a luz pra cá.
- Thaz: Tá certo, vou nessa. Tenho a treta do mano que bateu na mulher pra resolver. Hoje ele perde as mãos.
- Vai deixar o cara sem poder se coçar o cu, falo rindo, e ele saia negando.
Me arrumo no banheiro que tem aqui. Peço pro Lipe ir acordando elas e que se lavem a cara. Pelo menos vamos na padaria e lá eu confirmo com elas. Espero que não surtem, porque eu não estou preparado.