Octávio sempre se sentava no fundo da sala com os introvertidos que era os seus colegas mais chegados, mas no momento do intervalo, ele se reunia com o Fael, que não pertencia à sua turma, e com as suas amigas Anne, Pétala e Valéria, todas de outra sala.
As meninas ficaram ausentes por algum tempo, principalmente a Valéria, pois, fora expulsa do Colégio, então eram apenas ele e o Fael. Recentemente fez amizade com o Pietro, mas ele não estudava lá, foi por aí que conheceu a Talita e para ele foi a melhor coisa que lhe aconteceu, o problema era apresentá-la para as amigas ciumentas.
Era mais um casal clichê do Colégio, o músico popular com a "nerd" impopular.
Durante a aula, a professora de Geografia, Antônia, passou uma atividade em g***o, com cinco integrantes, e liberou a turma para irem pesquisar os seus temas na biblioteca.
— Gente, é o seguinte — disse Fernanda para o seu g***o qual Octávio fazia parte: — primeiro pesquisaremos sobre o nosso tema, que é... — Ela esperou alguém responder. Era uma jovem branca, alta de olhos e cabelos castanhos, simples, bonita, porém, a*******e.
— Países desenvolvidos e subdesenvolvidos — respondeu Renata, a outra garota do g***o.
Era menor que a Fernanda, cabelos muito longos, também castanhos, um pouco mais escuros, e tinha os olhos da cor do mel e os lábios finos. Tinha uma aparência de uma boneca frágil de porcelana. Era tão delicada quanto uma pena, mas carregava uma força no coração que não fazia ideia.
— Países desenvolvidos e subdesenvolvidos — repetiu Fernanda. — Bem! Vamos dividir o assunto em cinco tópicos e cada um vai ler, entender e apresentar a sua parte, não temos tempo para mastigar o assunto, tem que engolir de vez, se é que vocês estão me entendendo. A professora só quer o básico, o que aprendemos em pouco tempo. Alguém tem alguma outra sugestão?
Octávio não disse nada, os outros dois garotos, Andrei, o magro de cabelos negros e óculos de grau, e Demétrio, o atleta loiro e sorriso perfeito, deram de ombros e foram para a biblioteca com a ideia formada. A professora combinou que em cada aula, um g***o teria um tema surpresa para apresentar no mesmo dia, eles teriam que ser objetivos e organizados, tudo isso valeria dez pontos. Uma dinâmica diferente.
•••
Estavam todos na biblioteca. O jovem Andrei, o míope com óculos de fundo de garrafa, perguntou ao bibliotecário, um rapaz n***o, elegante e bem-arrumado, em que seção poderiam pesquisar sobre o tal tema e ele mandou-os para as últimas prateleiras, bem no canto do recinto. Foram todos para lá. Quanto mais pessoas, melhor a hipótese de encontrarem o que procuravam. Não podiam perder tempo, hora de montar em apresentação em trinta minutos.
Ao chegarem à última seção de livros, se depararam com uma pessoa no canto da parede, o seu rosto estava encoberto por um capuz e pelas roupas, deduziram que se tratava de uma garota, lia um livro peculiar que não parecia pertencer àquele lugar de tão diferente. A garota fechou o livro com força que fez o som ecoar e disse para nenhum deles o pegar, pois, era amaldiçoado e estava se livrando dele. Com certeza não fazia parte daquele acervo. Ela retirou o capuz, revelou-se uma linda garota de olhos azuis e cabelos de uma cor vermelha como o sangue.
— Livros não são apenas um monte de palavras — disse a ruiva —, também podem conter muito poder.
— Nossa, que gata! — exclamou Demétrio, o atleta loiro e engomadinho, vivia se bronzeando para ficar com a pele mais escura.
Ele ignorou completamente as palavras da garota, assim como os demais.
— Parece uma princesa — comentou Andrei.
Octávio não se atreveu nem mesmo a olhar-lhe, que dirás soltar algum comentário e foi procurar os livros de Geografia. Ele tinha namorada, era fiel e não havia nada na garota ruiva misteriosa que pudesse o interessar tanto. A garota colocou o seu livro numa das prateleiras, se aproximou deles e disse:
— É sério, não peguem aquele livro, senão podem ter sérios problemas — avisou a estranha.
— O que tem o livro? — perguntou Andrei, já que ela tanto insistia, mas era óbvio que ele não tinha interesse no assunto, só em conhecer a bela jovem mulher.
Andrei era bem magro e parecia ter anemia, mas, apesar da aparência, não era santinho, era o mais t****o do colégio. Foi pego no banheiro por alguns alunos assistindo vídeos pornográficos e se autoerotizando.
— Está cheio de magia — respondeu a garota de maneira misteriosa.
— Quem é você? — perguntou Fernanda, não se simpatizou nem um pouco com a ruiva que permanecia com aspecto de um ser humano agradável. — Qualquer um pode entrar aqui sem farda agora? E que roupas são essa? Você, por um acaso, é alguma maluca que anda fantasiada pelas ruas por ter uma ideia que só você e o seu g***o de malucos acham interessante ou é só o seu estilo mesmo. Na verdade, não quero saber, estamos ocupados...
A garota não respondeu e nem se importou com as palavras de Fernanda, apenas deu risadas e apresentou-se:
— Eu sou a Eva. Sobrinha do dono deste colégio. Ele deixa eu entrar aqui quando eu quiser.
— Nunca ouvi falar.
— E você tem namorado, princesa? — perguntou Demétrio.
Ela também não respondeu essa pergunta, simplesmente ria e jogava os cabelos. Fernanda e Renata se entreolharam expressando repulsa.
— Meninos, foco por favor — disse Renata. — Vamos, temos muito o que fazer — cada uma das meninas arrastou um garoto relutante para longe, deixando a estranha no vácuo.
A menina do cabelo vermelho, sem perder a graça, aproximou-se de Octávio para flertar, ele estava calado a todo o momento. Renata e Fernanda ficaram com mais ciúme ainda, já que Octávio era o mais cobiçado, porém, não disseram nada a ele porque ele foi o único que não deu importância para ela.
— Oi! — saudou a ruiva de maneira prolongada. — Você é o Octávio, não é?
Dessa vez, o músico decidiu olhar para a estranha que curiosamente sabia o seu nome. Ninguém a conhecia, ninguém a viu antes, mas realmente, a garota era bonita, mas ele tinha bastante experiência com flerte para saber se comportar de maneira adequada naquela situação.
— Como sabe o meu nome? — perguntou Octávio.
A garota sorriu.
— Quem não te conhece aqui nesta cidade, fofo?
— Muitas pessoas.
A estranha sorriu amavelmente e Octávio não sabia o motivo. Se permitiu olhar mais um pouco para ela.
— Você me é familiar — continuou o garoto.
— Sou amiga do Pietro, bobinho — respondeu a estranha.
— Ah! — exclamou Octávio.
Ele já a vira uma única vez, foi tão rápido que nem se pode observar mais detalhes, o que havia de mais marcante na jovem era o seu cabelo.
Nesse momento, Fernanda interrompeu a conversa e disse estarem muito ocupados. Reuniu toda a gentileza que pôde para pedi-la que conversasse numa outra hora. A garota apenas sorriu, jogou um beijo para o Octávio que sentiu uma tontura no mesmo instante e se retirou sem se despedir.
— Não gostei desta menina — comentou Fernanda. — Tem cara de mentirosa.
•••
Desde o instante em que a garota do cabelo vermelho mandou um beijo para o Octávio, ele sentiu-se tonto, um pouco perturbado e não conseguia raciocinar direito, foi o único que não conseguiu encontrar um livro de geografia que falasse sobre o assunto qual procuravam. O que não era nada difícil.
— Hei! Octávio — falou Demétrio ao perceber alguma coisa —, se você não estiver se sentindo bem, pode deixar com a gente.
— É… — afirmou Renata. — Já temos livros suficientes.
Perceberam que ele estava com um comportamento estranho, como se forçasse a ficar sóbrio.
— Não, não. Estou bem, me deem um minuto.
— Tudo bem — continuou Demétrio, ainda desconfiado. — Vamos para a mesa ler um pouco, qualquer coisa você vem, vamos separar a sua parte.
Octávio confirmou com a cabeça e ficou sozinho a procurar um livro. Mas cada segundo que se passava era uma t*****a. Octávio começou a suar frio, a ofegar e a sua visão ficava turva de momento em momento.
Estava prestes a desistir até mesmo da aula e ir para casa descansar. Ele detestava ir ao Posto Médico, tinha medo de injeção, mesmo curiosamente possuir ‘piercings’ e tatuagens, o problema era com as seringas, quando era mais novo ficou com febre alta e teve que se internar urgente no hospital onde passou dias sendo furado por seringas e isso traumatizou-lhe. Ele superou um pouco, só sobraram os resquícios do medo.
Depois de quase desistir, Octávio ficou de frente para a última prateleira, percebeu um livro cinza e surrado com um título escrito em vermelho metálico. Era o livro qual a garota estranha dissera para não pegarem e que, até então, ninguém havia dado importância. Octávio sentiu muita necessidade de pegá-lo e assim que o fez, tudo voltou ao normal. Foi como se ele tomasse um remédio que trouxe um efeito instantâneo. Não estava mais tonto, nem perturbado, nem fadigado, sentiu tanto vigor que ficou com entusiasmo para apresentar o trabalho, tudo por causa do livro e ele não teve dúvidas.
Assim que Octávio sentou-se com o seu g***o, começaram a estudar e a discutir sobre o assunto qual apresentariam em alguns minutos.
Chegou o momento do intervalo. Na própria biblioteca tinha um espaço onde os alunos poderiam comer as suas refeições tranquilamente e depois voltariam para os livros.
***
Ficaram sozinhos na biblioteca novamente, o intervalo acabou e estavam se preparando para concluírem a pesquisa quando um dos colegas de classe entrou no local e avisou que o tempo deles havia terminado, depois foi embora.
O g***o escreveu as últimas anotações e fechou os livros, porém, Fernanda observou que um livro não fazia parte do estudo e o pegou antes que Octávio pudesse protestar.
— Eu não acredito — Fernanda chamou a atenção dos outros. — Você pegou o livro i****a da garota i****a. Por quê?
— Eu estava com v*****e de pegar — respondeu Octávio. — Não posso?
Fernanda não sabia o que dizer, ela simplesmente leu o título e depois leria o conteúdo para mostrar o quanto ele havia feito uma péssima escolha. Uma garota tóxica.
— Asqueva? Que título ridículo. E esse livro é tão surrado que parece que saiu do lixo — Fernanda abriu a primeira página. — Esse livro é sobre o quê? Como invocar um demônio? Isso é tão útil — debochou.
— Fernanda, deixa de ser infantil — falou Octávio, mas a garota o ignorou.
Ao ter lido o título do livro, outra curiosidade despertou-se nele, como se já tivera ouvido aquele nome em algum lugar antes.
— Deixa ela ler, agora fiquei interessada — disse Renata.
— Não comece a ler este exemplar, porque, se o fizer, terá que ler até as últimas páginas — Fernanda expirou como se aquilo fosse a coisa mais i****a que já leu na sua vida. — Nossa, que m***a! — ela folheou o livro enquanto Demétrio reclamava do tempo, tinha pouquíssimas páginas, apenas a capa era bastante grossa. — Olha só — ela mostrou as páginas para que todos vissem. — Essa porcaria não tem nada — praticamente todas estavam em branco.
— Talvez seja para o próprio usuário escrever — sugeriu Andrei.
— Não faz sentido — rebateu Fernanda.
— Vamos embora, gente, estamos perdendo tempo — avisou Demétrio — ele pegou a livro da mão da garota e também o folheou para acabar logo com aquela brincadeira. — Espera — disse o rapaz —, você esqueceu de ler uma página aqui — falou diretamente para Fernanda.
— Não esqueci, não — rebateu a garota.
— Sim, esqueceu sim — Demétrio mostrou a página, ela pegou o livro, e Octávio não moveu um músculo para interromper os atos infantis dos seus colegas.
Fernanda jogou o cabelo para trás, pigarreou e leu:
— "A magia está em todo lugar, ela também é responsável por moldar a realidade, e a realidade é mais misteriosa do que se pode imaginar. A sua existência se tornará em ** se não cumprir tudo o que aqui estiver escrito. Receba as boas-vindas ao jogo."
Assim que ela terminou de ler, o livro emitiu uma onda de impacto que os arremessou ao chão e fez tudo estremecer como um efêmero terremoto.