Capítulo 3

1605 Words
Talita estava sentada sozinha em um dos degraus do Colégio Particular Isabelle Andril, do centro da Cidade de Uberlândia, em Minas Gerais, as aulas de 2005 caminhavam para o fim e ela já não tinha mais paciência para estudar, ela queria apenas escrever as suas poesias, era o seu refúgio para escapar da realidade. m*l sabia que ela que o Destino a reservou uma surpresa que mudaria a sua vida de uma maneira incrível e sobrenatural. Ela sempre disse para a si própria que era uma menina muito inteligente, como a nota média era cinco, foi praticamente aprovada em todas as disciplinas em três de quatro Unidades, até mesmo Química e Física, as que ela tinha mais dificuldade de aprender. Era a sua última série do ensino médio e não queria pensar na possibilidade de repetir de ano, nem podia, fora que os seus pais davam duro para mantê-la bem no Colégio mais rico de Uberlândia onde ela ganhou uma bolsa de estudos, 100% gratuita, então se esforçou muito para passar em todas as disciplinas. O sinal tocou, e os poucos alunos que se encontravam na frente do colégio começaram a entrar para que o portão não fosse fechado por conta do horário. Talita escrevia os seus poemas tranquilamente, eram textos melancólicos e por isso nunca deixou que ninguém os lesse, nem mesmo o seu atual namorado, o Octávio. Parece que ninguém jamais leria, era um pouco tímida quanto a isso e tinha medo da reação de quem lesse. — Talita, está quase na hora — avisou Octávio, o seu namorado charmoso carregava um violão nas costas. Ele estava acompanhado com mais dois colegas, o Fael e o Pietro, os meninos não desgrudavam dele um minuto sequer. Octávio era o garoto mais popular do colégio por ser solista e guitarrista de uma banda de rock da cidade. Muito clichê. — Tudo bem! — respondeu Talita. — Não vou para a aula hoje, já estou aprovada em Matemática. Prefiro ficar aqui escrevendo os meus poemas, depois eu vou voltar para casa. — Hum! A certinha resolveu se revelar hoje. Nunca vi você matando aula. — É só hoje — Talita dá um sorriso amarelo. — Vai ser minha primeira vez. — Por que isso? — Não sei, estou sentindo um clima diferente. Acho que devo ficar aqui por mais alguns minutos. — OK! Você que sabe — Octávio aproximou-se e deu um beijo rápido nos lábios da garota e retirou-se. "Cinco minutos para fechar o portão" gritou a porteira para os alunos que ficar do lado de fora após o sinal ter tocado. Depois disso, Talita ficou completamente solitária. Ela conheceu o Octávio na biblioteca do Colégio, o ponto de encontro da maioria dos alunos, mas aquele não era o seu propósito, pois, Octávio lia sobre a Revolução Industrial no dia em que se conheceram, porém, nitidamente tinha dificuldades de processar o conteúdo, ela observou a situação e o ajudou, explicou-lhe tudo sobre o fato histórico, ele percebeu o quanto ela era bonita e inteligente, a convidou para sair e tirou uma nota boa na prova. Em seguida, namoraram. A garota chegou a pensar que era só um momento de gratidão, mas relacionamento continuou de pé, graças aos dois, e assim continuaram. Talita era um pouco ciumenta, mas não demonstrava para as pessoas, preferia se isolar e escrever poemas. Era assim que lidava com o assédio corriqueiro que o seu namorado "sofria". Mas ele era um jovem fiel e honesto, nunca traiu ninguém que namorou, no entanto, era difícil para ele namorar permanentemente com alguém sendo tão rodeado de garotas que atiravam a todo instante para ele, na verdade, as próprias parceiras não aguentavam e terminavam o relacionamento. Ele não demorava um dia para aparecer com outra. E assim ele propagava a sua fama, mesmo sem intenção. A garota Talita era uma jovem pequena, amarela — quase branca, cabelos curtos, olhos grandes e pretos, sorriso encantador. Sim, ela sorria bastante, era muito graciosa e, simultaneamente, séria. Madura demais para a idade. Dezesseis anos. Já o Octávio, era um jovem branco, cabelos negros, curtos e arrepiados, cheio de tatuagens, ‘piercings’, olhos azuis, lábios rosados, magro, muito bonito, faltava-lhe mais um ano para concluir o ensino médio. Era cantor de rock e guitarrista, muito amado pela comunidade, bastante popular no seu meio social. Sempre passava lápis de olho e pintava as unhas de preto, se caracterizava como tal diariamente, era a sua identidade. Geralmente, Talita iria para a sala de aula, escrevia poemas e no intervalo ficaria no pátio para se encontrar com o namorado e os amigos. Ela já ouviu muitas garotas falarem m*l dela, dizendo que o casal não tinha nada a ver, que não se combinavam, que ele era bom demais para ela, que eram extremamente opostos, entre outras coisas. A melhor parte era que ela nunca se abalou e o casal nunca precisou conversar sobre isso, poucas coisas a incomodava, poucas coisas a tiravam do sério, a verdadeira Talita continuava oculta, dentro dela mesma. Após concluir o seu poema ela guardou o seu material na mochila e preparou-se para ir embora, sentiu uma leve tontura e dor de cabeça, quando uma garota estranha andou na sua direção. A garota era estranha não por ser "f**a", ou ter uma aparência julgada desagradável, era estranha de maneira suspeita. Sinceramente, era linda demais, estava completamente trajada de preto, a sua roupa parecia ser de épocas atrás, porém, a deixava mais elegante, o azul dos seus olhos eram hipnotizantes e o vermelho dos seus cabelos chamavam muito atenção. Ela também usava uma capa clássica preta de cetim com capuz. "Quem se veste assim no dia-a-dia?" pensou Talita. A garota estranha subiu à escadaria do colégio e passou diretamente por Talita que não conseguiu disfarçar e a encarou, a garota estranha lançou-lhe um meio sorriso que não foi retribuído e focou-se na sua trajetória. Talita queria ir embora, mas se obrigou a ficar pela sua curiosidade em saber o que aquela jovem queria naquele Colégio, pegou o seu caderno novamente e disfarçou, fingindo estar a escrever alguma coisa. Talita, então, notou que a estranha carregava um livro cinza e surrado com um título escrito em vermelho metálico, somente dava para identificar "Asqu…". A estranha do cabelo vermelho chamou a porteira e conversaram sobre algo que Talita não pôde ouvir, a sua curiosidade aumentou quando um “flash” de luz surgiu no meio delas. A princípio, Talita ignorou, mas depois disso, a porteira expressou distração no seu rosto, como se estivesse hipnotizada com alguma coisa na rua e abriu o portão para que a "ruiva" entrasse. Talita ficou sem acreditar. A porteira era conhecida por ser rude e carrasca. Aquela menina devia ser muito importante para entrar assim, tão facilmente. Talvez fosse uma aluna de outro turno, mas parecia muito madura para ser uma aluna do ensino médio. No fundo, Talita sentiu que conhecia aquela menina de algum lugar, só não lembrava de onde. Assim que a garota do cabelo de sangue distanciou-se, Talita levantou-se do chão e correu para o portão do Colégio. — Psiu! Ei, Porteira — chamou Talita a mulher de maneira confidencial. A mulher virou-se, arqueou as sobrancelhas e suspirou, depois, andou em direção a ela a dizer: — Olha, eu vou logo avisando que vi você ali sentada e você não entrou porque não quis, agora é tarde demais… — justificou a porteira, porém, foi interrompida. — Não, senhora, não é nada disso — disse Talita. — Eu só quero saber quem é aquela menina do cabelo vermelho que acabou de entrar aqui. A zeladora perturbou-se. — Quem? — Exatamente isso que eu quero saber. Quem é ela? Pode falar? — Ela quem, menina? Está ficando doida? Talita não entendeu. — Ué? Acabei de ver você deixar uma jovem de cabelo vermelho entrar... — Talita interrompeu-se ao ver que a porteira não entendia nada do que ela falava. — Deixa-me trabalhar, menina — reclamou a porteira depois de uma pausa. — Ora, essa! — a porteira foi embora a resmungar deixando Talita tão confusa quanto estava antes. Será que a zeladora fizera-se de desentendida? ••• Talita ficou por muito tempo sentada na escada do Colégio, queria ver aquela garota sair de lá e provar que não enlouquecia, nem estava imaginado coisas, quase convenceu-se a si própria de que tinha que parar de escrever poesias melancólicas, afetava mais a sua imaginação, até ver a porteira novamente com aquela feição de uma mulher lerda a admirar a paisagem e abrir o portão para a garota do cabelo vermelho sair sem nem agradecer. A garota passou por Talita com tanta pressa que ficou mais intrigada, no fim piscou para ela, pôs o capuz como uma criminosa suspeita e foi embora tão rápido quanto aparecera. Após minutos observando a garota se distanciar e pensar num milhão de coisas sobre ela, Talita sentiu um pequeno abalo sísmico debaixo dos seus pés, um terremoto tão efêmero que quase podia ser ignorado, não fosse pelo fato de se desequilibrar e a sua visão ficar turva por um instante, após ter apertado os olhos, voltou ao normal. Talita sentiu-se confusa, no Brasil não tem terremoto. Talita ficou por alguns segundos tentando se lembrar de que tinha que fazer alguma, a sua cabeça começou a doer, mas ela apenas a balançou rapidamente e a sua dor passou. Em seguida, deu de ombros, decidiu ignorar tudo aquilo, pegou a sua mochila e foi embora para casa. Ficaria sem participar da aula daquele dia, então, daria um passeio pela cidade, sem ruma, para passar mais um pouco de tempo fora de casa.
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