Indo com calma

1037 Words
Rycon estava ao lado de Gael. Cara tinha sido levada por Lúcia para que pudesse tomar um banho antes de retornar ao hospital. O remédio que o médico havia receitado tinha feito efeito; já era tarde da noite e Gael ainda não havia despertado. Olhando o menino dormir, Rycon sentia que tinha falhado com ele. Havia mostrado a Gael um lado seu que não deveria, e isso, naquele momento, lhe causava muita vergonha. Rycon fitava a cicatriz no dedo do menino enquanto se lembrava das palavras de Cara. Ele sabia que jamais esqueceria aquelas palavras. Os seus pensamentos foram interrompidos pelo barulho da porta se abrindo lentamente. O som de passos se aproximando parecia alto demais para o quarto silencioso. — Como ele está, querido? — perguntou Mira, sentando-se ao lado de Rycon. O seu olhar era de preocupação voltado para o menino deitado na cama. — Ele está bem, mãe. — disse ele com um suspiro. — O médico disse que foi um ataque de pânico. Deus, Rycon! Ele é tão pequeno para passar por essas coisas... — a voz de Mira estava trêmula ao falar com o filho. — Sim, mas depois de tudo o que fiquei sabendo, eu entendo. — respondeu ele, chamando a atenção da mãe. — Então você também sabe? — perguntou ela em voz baixa. — Sim, Cara me contou tudo... e com detalhes. — respondeu, passando a mão frustrado pelos cabelos. Rycon não queria lembrar das coisas que Cara lhe havia dito. Ele queria estar bem para conversar com Gael quando ele acordasse, e não ajudaria se estivesse estressado. — Não consigo nem imaginar a dor que esses dois passaram. Ninguém deveria sofrer dessa forma. — disse Mira. Ela sempre tivera uma vida boa ao lado de César; ele a amava e fazia de tudo por ela. Pensar que Cara havia sofrido nas mãos de quem deveria cuidar dela era algo terrível. — Isso não vai ficar assim, mãe, posso te garantir. — disse ele, cerrando o maxilar. — Seu pai já está cuidando disso. Ele entrou em contato com aquele amigo delegado. Está tão zangado quanto você, filho. Cara é uma boa mulher e merece um pouco de paz. — Isso é bom, mas vou fazer algumas ligações de toda forma. — disse ele. As palavras de Rycon acenderam um alerta em Mira. Ela conhecia muito bem o filho que tinha, assim como a sua falta de paciência em certas situações. — Filho, não quero você envolvido com o que não deve. — disse ela com um olhar sugestivo. Um sorriso curvou os lábios de Rycon. Sua mãe o conhecia muito bem, assim como os seus métodos de lidar com certas pessoas. — Só quero informações, mãe. Pedi que alguém investigasse o caso de Cara, e, quando descobrir onde o infeliz que a machucou está escondido, vou garantir que ele tenha dias “felizes” na prisão. Mira entendia muito bem o que estava por trás das entrelinhas. Seu filho não era muito dado ao perdão, e aquela parecia ser uma dessas vezes. Mas ela não o impediria; pela primeira vez, desejava que o filho resolvesse as coisas à sua maneira. — Apenas me garanta que vai ficar bem. — pediu ela, colocando a mão em seu braço. — Não se preocupe, mãe, sei até onde posso ir. — respondeu ele com tranquilidade. Ele não passaria dos limites, mas isso não significava que outra pessoa não o fizesse. — Tudo bem. — disse ela, levantando-se. — Vou para casa fazer um bolo para alegrar o nosso pequeno quando ele acordar. Rycon apenas assentiu e observou a sua mãe beijar a testa de Gael antes de sair. Ele podia ver o quanto ela havia se afeiçoado ao menino, e isso o deixava feliz. No momento em que Mira saiu, o quarto voltou ao silêncio de antes, interrompido apenas pelo barulho dos aparelhos que monitoravam Gael. Rycon pegou o telefone e começou a fazer algumas ligações; tinha pressa para resolver aquele assunto e trazer a Cara e Gael a paz que tanto precisavam. Após alguns minutos, percebeu movimento na cama. Desligou o telefone rapidamente e se sentou ao lado de Gael. Quando os olhos do menino se abriram e ele viu Rycon à sua frente, os aparelhos dispararam. Os olhos de Gael se arregalaram e ele começou a respirar com dificuldade. — Calma, Gael, estou aqui para cuidar de você. Não vou te fazer m*l. — explicou ele com as mãos levantadas. — Precisa se acalmar. Tente respirar devagar. Rapidamente o médico e uma enfermeira invadiram o quarto para verificar o que estava acontecendo. Rycon se afastou e deixou que o médico se aproximasse. — Pelo visto, o meu paciente acordou. — disse o doutor enquanto examinava o menino. — É bom saber que está melhor, Gael. — Onde... onde está minha mãe? — perguntou o menino, assustado, com os lábios trêmulos. — Ela foi em casa tomar banho, já deve estar voltando. — respondeu Rycon. — O senhor Rycon ficou cuidando de você, então preciso que se acalme ou terá outra crise. — disse o médico. Gael assentiu e começou a respirar com mais facilidade. — Isso, muito bem. — O que você fez com ela? — perguntou Gael, apontando para Rycon. Rycon olhou para o médico, que assentiu e se retirou com a enfermeira. — Não fiz nada, Gael. Jamais machucaria a sua mãe. — respondeu ele, sentando-se novamente ao lado do menino. — Mas eu vi, você estava bravo. — insistiu Gael. Rycon passou a mão pelos cabelos, frustrado. — Eu sei, mas isso acontece comigo. Perco a paciência muito fácil. Gael examinava o rosto de Rycon em busca de algo que o denunciasse, mas o CEO tinha uma expressão que, para o menino, parecia até mesmo de... vergonha. — Mas... — Eu sou estressado quando se trata do trabalho, Gael, e na maioria das vezes você vai me ver brigando com alguém. Mas nunca machucaria alguém que trabalha para mim. Um homem de verdade jamais faria isso. — disse ele com firmeza. Gael pareceu relaxar com as palavras de Rycon. Era tudo o que precisava para ter uma conversa tranquila e tentar resolver o m*l-entendido de antes.
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