No caminho para a empresa, Cara se pegava olhando para Rycon a cada poucos segundos. Ela se perguntava onde estava aquele CEO sem coração que conhecia. Ele havia sido doce e atencioso com Gael, e aquele cuidado ela jamais esqueceria em sua vida. Cara agora tinha uma dívida com Rycon que talvez jamais conseguisse pagar.
— Por que está me olhando assim? — disse Rycon quando estavam chegando à empresa.
— Não é nada. — respondeu Cara, desviando o olhar dos dele.
— Não me parece nada. — disse ele, descendo do carro e abrindo a porta para ela.
— Mas é. — respondeu seca.
Cara deu as costas a Rycon e marchou para dentro da empresa. De longe, Rycon via aquilo com um sorriso no rosto, mas seus olhos estavam focados na forma como o traseiro de Cara ficava na saia lápis cinza que ela usava naquele dia.
— Está olhando para ela como um tarado, e isso é assustador. — disse Luka, parando ao lado dele no estacionamento.
— Quando voltou? — perguntou Rycon, estendendo-lhe a mão.
— Fiz uma pesquisa nos últimos dias e consegui um número considerável de fazendeiros interessados na sua proposta, então resolvi voltar para conversarmos sobre isso. — disse ele, animado.
— Isso é bom. Se der certo, poderemos expandir os laboratórios para outras regiões; seria mais fácil fazer as distribuições e prestar assistência. — A mente de Rycon começava a girar em uma velocidade que ele adorava, enquanto fazia novos planos.
— Pensei o mesmo: que, se tivermos outras unidades, poderemos atender mais pessoas, o que vai render uma quantia bem maior do que esperávamos. — disse Luka, compartilhando a mesma animação.
Eles entraram na empresa discutindo o novo projeto. A animação era tanta que Rycon sorria enquanto entrava no elevador.
Os funcionários olhavam espantados, como se a pessoa diante deles fosse um completo estranho, e não o CEO implacável a que estavam acostumados.
— O que houve? — perguntou Ivy ao ver Cara chegando a passos largos em sua mesa.
— Nada, estou apenas ansiosa para pôr o meu trabalho em dia. — respondeu ela com um sorriso sem graça.
— Espero que esteja animada mesmo. — disse Ivy, levantando-se e colocando uma pilha de documentos sobre a mesa de Cara. Ela gemeu ao ver a quantidade de pastas que a esperavam. — Divirta-se.
— Retiro o que disse. — disse ela, fazendo Ivy rir.
— Tarde demais para isso. — respondeu Ivy.
Cara suspirou e se afundou no trabalho. Queria recuperar todo o tempo que tinha perdido antes, e nem ao menos percebeu a hora avançar enquanto examinava os documentos.
— Almoço, Cara. — disse Ivy, horas depois, parando em frente à mesa dela.
— Pode me trazer um sanduíche? Estou sem fome e queria aproveitar para terminar isso. — disse ela, mostrando o documento em suas mãos.
— Sabe que isso não é saudável, mas te trago algo quando voltar. — respondeu Ivy, sorrindo.
Cara se concentrou no documento e nem percebeu quando, minutos depois, Ivy deixou um sanduíche e um copo de suco em sua mesa.
— Cara. — chamou Rycon, assustando-a. — O que é isso? — perguntou, apontando para o sanduíche.
— Meu lanche da tarde. — respondeu ela.
Rycon olhou desconfiado, mas não retrucou.
— Vamos ter uma reunião no último andar daqui a meia hora. Preciso que você me acompanhe. Meu pai já está lá aguardando.
— Tudo bem. — respondeu ela.
Rycon apenas assentiu e saiu.
Cara organizou o documento que estava analisando e, sem querer se atrasar, partiu para a sala de reuniões do último andar. As salas daquele andar eram onde aconteciam as negociações mais importantes, com grandes nomes do mercado de negócios. Por isso, Cara estava ansiosa para saber como seria aquele encontro.
Assim que chegou, percebeu como a sala era bem organizada, luxuosa, mas acolhedora. Ao olhar para as portas da sala de reuniões, viu a pequena luz azul acesa — um sinal de que havia uma reunião em andamento. Então, apenas se sentou em um dos sofás e esperou.
A meia hora de Rycon se transformou em uma hora, e Cara começou a ficar impaciente. Recostou-se no sofá, jogando os cabelos longos para trás e deixando a cabeça descansar no encosto. Não percebeu quando a sonolência a tomou, nem que estava tão cansada quanto parecia.
Em seu subconsciente, ouviu passos se aproximando. O encosto do sofá se moveu quando um par de braços se apoiou nele. Quando a pessoa se inclinou em sua direção, o cheiro dele invadiu os sentidos de Cara. Ela conhecia muito bem aquele cheiro — um cheiro que agora fazia parte de sua vida e que adorava de uma forma que não conseguia explicar.
Cara abriu os olhos com dificuldade e o viu se inclinar. Com muita delicadeza, seus lábios tocaram os dela: primeiro um roçar leve, depois com um pouco mais de pressão. O coração dela disparou, e ela travou no lugar, incapaz de formular um pensamento coerente. Sua mente se recusava a aceitar que aquilo realmente estava acontecendo.
Lentamente, ele se afastou. Cara encontrou seus olhos castanhos, limpos e vivos, como se nada tivesse acontecido segundos antes. Seu rosto carregava uma inocência que não condizia com ele, mas, de certa forma, era a combinação perfeita.
— A reunião vai começar. — disse ele com uma voz doce que não parecia ser dele — não o Rycon que ela conhecia, o que a atormentava sempre que podia, aquele que tinha uma língua tão afiada quanto uma navalha recém-amolada. Mas, ainda assim, era ele.
— Eu... eu já vou. — respondeu ela, encontrando sua voz, seus olhos fixos nos dele.
Rycon apenas assentiu e se afastou, entrando novamente na sala de reuniões. Cara encarava o teto, tentando entender o que tinha acontecido. Ele realmente a tinha beijado?