Uma conversa interessante

1079 Words
César olhava, impressionado, a forma como a mulher à sua frente trocava o pneu da sua caminhonete. Ela era pequena, mas ágil no que fazia. — Onde aprendeu a trocar um pneu? — perguntou ele, enquanto ela removia o que estava furado e retirava o estepe. — Já faz um tempo. Tinha um carro velho que sempre me dava trabalho, então trocar o pneu foi o de menos. — disse ela, e César riu da resposta. — Isso me lembra do meu fusca. — respondeu ele. Cara levantou a cabeça rapidamente, com os olhos brilhando. Ela amava o fusca, mas infelizmente nunca pôde adquirir um. Até porque o valor para restaurar um carro daqueles custava um absurdo. — O senhor tem um fusca? — perguntou ela, animada. — Sim. Quando o comprei, ele me dava muito trabalho, mas depois consegui um dinheiro e mandei restaurá-lo. Agora ele é meu carro favorito e não me dá mais problemas. — respondeu ele, lembrando-se do seu começo nos negócios. — Deve ter muitas memórias agradáveis. — disse ela, enquanto encaixava o estepe no lugar e começava a apertar os parafusos. — Sim, muitas. — respondeu ele. César observava, atento, o cuidado de Cara ao trocar o seu pneu. Ela era uma mulher bonita e talentosa ao que parecia, mas o que mais chamava a sua atenção era a forma como ela conversava com ele. Era algo tão tranquilo e natural que ele se surpreendia. César sentia falta daquilo: na maioria das vezes, as pessoas apenas se aproximavam dele por interesse, mas ali estava ela, alguém que não fazia ideia de quem ele era e que conversava de forma espontânea. — Quantos anos você tem, Cara? — perguntou ele, curioso. — Tenho trinta e dois, mas o espírito é de uma velha de setenta. — disse ela, rindo de sua própria piada r**m. — Você ainda é jovem. Não pode ser tão m*l-humorada quanto uma senhora idosa. — disse ele. — Não é o que meu filho fala às vezes. — respondeu ela, rindo. César se surpreendeu com a resposta. Olhando para seu rosto, não imaginava que ela já tivesse filhos. — Você é casada? — perguntou ele. Cara ergueu o rosto e encarou os olhos castanhos de César, tentando entender o que ele queria com aquelas perguntas. — Me desculpe se fui indelicado, mas você me parece tão jovem. — explicou ele. — Eu sou divorciada e tenho um filho de seis anos. — respondeu ela. Mas César percebeu que os seus olhos não tinham mais aquele brilho divertido de antes. Parecia ter tocado em algo doloroso para ela. — Me desculpe, fui indelicado com a minha pergunta. — disse ele, pesaroso. — Está tudo bem, é só... complicado. — respondeu ela, por fim, terminando de trocar o pneu. Cara pegou o pneu furado com dificuldade e colocou na carroceria da caminhonete. — Prontinho, você já está liberado. César riu com as palavras dela. Jamais tinha encontrado alguém tão animada quanto a mulher à sua frente. — Obrigado por sua ajuda, querida. — disse ele, pegando a carteira e retirando um bolo de notas de dentro, estendendo-o a ela. — Um agrado pela sua ajuda. — Não vou aceitar, senhor César. Faria isso por qualquer um que precisasse. — disse ela, recusando. — Mas eu tomei muito do seu tempo, e ainda estraguei a sua roupa. — disse ele, apontando as manchas de graxa que o pneu tinha deixado na blusa dela. — Vamos fazer assim: na próxima vez que nos vermos, o senhor me paga um café. — disse ela, sorrindo. — Me chame apenas de César, querida. E se isso vai te fazer sentir melhor, então temos um acordo. — disse ele, estendendo a mão boa e apertando a dela. — Estamos combinados, César. Foi um prazer conhecê-lo. — disse ela, pegando a bicicleta e saindo. César observava Cara partir com um sorriso no rosto. No fundo, parecia que tinha valido a pena deslocar o braço na fazenda; caso contrário, não teria conhecido aquela mulher. A sua mente viajou até seu filho, pensando no que ele diria se soubesse o que acontecera. Cara correu para casa. Assim que chegou, tomou um banho e começou a preparar o almoço. Precisava ser rápida ou se atrasaria, e ela não queria que Lúcia perdesse o horário de almoço. Algumas horas depois, Cara montava a mesa para o almoço — algo simples: arroz, feijão e bife acebolado. Não demorou muito e Lúcia chegou daquele jeito de sempre, jogando as sandálias pelo chão e se jogando no sofá com um suspiro. — Não seja bagunceira. — disse Cara, colocando as sandálias dela em um canto. — Desculpa, Cara, mas minha manhã foi terrível. Achei que trabalharia menos vindo para cá, mas estava bem enganada. — respondeu ela, fazendo uma careta. — Ao menos você tem um bom trabalho. — disse Cara, suspirando, enquanto se sentava ao lado de Lúcia. — Não fique assim, Cara. Estou tentando ver se consigo uma vaga para você lá, mas eles querem alguém com experiência. — disse ela, com olhos tristes. — É melhor assim. Se trabalhássemos juntas, o nosso serviço não renderia. — disse Cara, rindo. Lúcia riu com ela, mas podia ver o quanto a amiga estava triste com aquela situação. — Tudo vai se ajeitar, Cara. Você vai ver. — disse ela, segurando as suas mãos. — Eu só queria que fosse logo. Não quero te dar mais trabalho. — E quem disse que você me dá trabalho? Eu estaria muito solitária sem você e o Gael por perto. — disse, levantando-se e pegando um copo de água na geladeira. — Eu queria ao menos te ajudar um pouco. — insistiu Cara. — E você me ajuda, e muito. As minhas roupas e essa casa não se limpam sozinhas. É você que mantém tudo organizado, e sou muito grata por isso. Então, esqueça essa ideia de que não me ajuda. — disse, sentando-se à mesa para almoçar. — Ainda vou te recompensar por tudo o que está fazendo. — disse ela, sentando-se de frente para Lúcia. — Você já faz isso, querida, e muito bem. Agora coma e descanse um pouco. Mais tarde o nosso furacão estará aqui. — disse ela, rindo ao se referir a Gael, que estava na escola. Cara sabia que tinha dias difíceis, mas era grata por ter Lúcia em sua vida. Ela era o apoio que tanto precisava para seguir em frente.
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