CAMINHOS TRAÇADOSUpdated at Jul 30, 2025, 09:30
Quando Yara sumiu da Bahia, ninguém viu. Foi como se o vento tivesse levado ela no meio da noite. Pegou o filho no colo, ainda bebê, e desapareceu. Sem despedida, sem destino certo, sem deixar rastro.
Fugiu como quem sabia que, se parasse por um segundo, nunca mais ia conseguir sair.
Durante anos, viveu escondida entre ônibus lotado, pensão barata e um nome inventado. Sempre olhando por cima do ombro, sempre com a mala meio pronta. A cada canto novo, prometia a si mesma: “só até ele crescer mais um pouco”. Mas o tempo passou rápido. Quando deu por si, o menino já tinha quatro anos, sorriso travesso e os olhos atentos demais pra idade.
Foi aí que o caminho deles cruzou com ele.
O Diabo.
Ele não veio com chifres e tridentes. O dela usava camisa da Nike, bermuda larga, corrente de ouro no peito e um olhar que gelava a espinha. Tinha voz calma, passo leve e um jeito de quem sabia mais do que dizia. Não gritava, não ameaçava. Só olhava. Como se enxergasse por dentro.
E ela… sentiu. Antes de qualquer palavra, sentiu. Como se o mundo tivesse parado, como se todo aquele tempo fugindo tivesse sido pra chegar ali — naquele exato momento.
E é aqui que a história começa: quando uma mulher que passou anos correndo encontra o tipo de perigo que não se foge com os pés. Porque tem coisa que gruda na alma. E tem caminhos que, mesmo quando a gente tenta evitar, já vêm traçados.